11 outubro 2017

 

O problema catalão

Dá-me a impressão que nós, portugueses, somos de uma forma geral sensíveis ao problema catalão, independentemente de posicionamentos ideológicos, o que é compreensível num povo que conquistou a independência com rebeldia e teimosia. Tenho verificado essa sensibilidade através da leitura de vários textos de opinião e da audição radiofónica de vários depoimentos e mesmo de entrevistas que tenho visto na televisão. Confirmei-o mais uma vez ontem, lendo o magnífico artigo de Paulo Rangel no Público, intitulado “Catalunha: nem só de pão legal e razão formal vive o homem”. Muitas vezes abandono a leitura dos seus artigos, quando descambam para a apologia político-partidária, o que é frequente, mas este lê-se com gosto do princípio ao fim. Trata-se de um texto muito bem informado e recheado de erudição política, jurídica e histórica, que nos dá um quadro através do qual a compreensão da pretensão à independência, por parte do povo catalão, se nos torna mais luminosa, muito embora o seu autor declare que vê «no processo independentista catalão algo muito nefasto e perigoso».
Porquê, então, este afã de demonstrar que existe, na história da Catalunha, esta legitimidade que confere ao povo catalão a pretensão à independência? Porque o problema é político e não se resolve com a força policial, nem com a invocação da legalidade que exisitiria do lado das autoridades centrais, face à desobediência das autoridades da Catalunha, como tem sido argumentado por Madrid de forma atrozmente inflexível. Diz Rangel: «… não vamos lá apostando tudo no direito; não vamos lá invocando argumentos formais de vácuo histórico e de marco sem precedentes. É preciso mais, muito mais. Sabedoria e sageza.»

Ora, isso é precisamente o que falta. Carles Puigdemont, declarando a independência sem efeitos imediatos, isto é, uma independência meramente simbólica ( e mais não lhe era possível, dada a situação a que se chegou), deu agora um passo para que uma solução negociada seja possível. Porém, Rajoy e companhia parecem determinados em prosseguir o caminho da vingança e da cegueira repressiva. Mas com isso estão a alimentar a fogueira do separatismo e da irreconciliabilidade.





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