26 outubro 2015

 

O discurso do presidente


Se me não engano na interpretação do polémico discurso do presidente da República, o que ele quis dizer é que os partidos à esquerda do PS não podem fazer parte de qualquer solução governativa, mesmo que o governo indigitado, embora tendo obtido uma maioria relativa, não tenha condições para governar. A maioria absoluta, formada em alternativa àquele governo, não será considerada como obedecendo aos princípios basilares que o presidente entende como indispensáveis, mesmo na hipótese de terem conseguido um acordo entre eles para governarem e, mais do que isso: mesmo que tal acordo tenha apenas incidência parlamentar, com exclusão de os partidos à esquerda do PS participarem num governo apenas deste último.

Ora, isso é que me parece inconcebível e contra a letra e o espírito da Constituição, que não estabelece barreiras ideológicas à formação de um governo. Colocar essas barreiras ideológicas (porque o são) não cabe dentro dos poderes do presidente.

Por outro lado, o presidente, ao anunciar que só daria posse a um governo estável e ao insistir tanto numa cultura de compromisso, parece-me que deveria ter explicitado o que entendia sobre isso, ou seja, que governo estável e cultura de compromisso, para ele, só poderiam envolver os chamados partidos do arco da governação.

E ainda extrair uma outra consequência desse entendimento: que os partidos à esquerda do PS sofrem de uma inabilitação: não podem fazer parte de um governo, nem darem sustentáculo a um governo de alternativa aos partidos de direita, devendo confinar-se à eterna oposição e ao protesto civilizado na rua.   





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