04 julho 2015

 

O sonho europeu


 

Em relação ao meu último “post”, li no Público que o ministro francês das finanças não se queria referir a Portugal e a Espanha, mas a outros países do Leste, como a Eslovénia e a Eslováquia. Portugal e Espanha teriam evoluído de posições drásticas para posições mais moderadas. Resultado de uma ponderação posterior, certamente tendo em conta a reacção dos mercados ao impasse das negociações com a Grécia. As minhas observações, contudo, são justas enquanto referidas às posições que Portugal e a Espanha vinham tomando em relação às pretensões do governo grego – pretensões que, por seu turno, se foram aproximando de muitas das exigências que os credores lhe impunham, mas que estes, na sua obsessão por medidas de austeridade que atingissem as camadas mais débeis da população, esticando sucessivamente a corda de resistência helénica, acharam insuficientes, dando assim origem à decisão do governo da Grécia de partir para o referendo de domingo.

E falando de referendo, diga-se que a intensa propaganda que certas autoridades das instituições europeias têm vindo a desenvolver a favor do “sim” denota uma concorrência desesperada com o governo grego e uma tentativa para desautorizar este e, no fundo, provocar a sua queda e substituição por um outro governo mais moldável às políticas da União Europeia – políticas que se têm cifrado numa defesa intransigente do capitalismo (rebaptizado de “economia de mercado”), em maré de recuperação de todo o “acquis” social,económico, cultural e jurídico, que lhe deu, no período do pós-guerra, uma aura de “humanismo” (o capitalismo social).

Mas que governo podem eles pretender, senão um dos que sucessivamente estiveram no poder com as dolorosas consequências conhecidas e que levaram o povo grego, em acto de desespero, a votar no actual governo, a ver se encontrava uma pequena fresta por onde pudesse respirar?

Uma coisa é certa: este governo pode perder a aposta,  mas já conseguiu um feito, que foi o de fazer frente ao programa político e ideológico inflexível das actuais instituições da União Europeia e confrontá-las com a sua inadequação e mesmo a sua aberração, pelo menos no que diz respeito aos chamados países periféricos. E isso há-de fatalmente ter consequências, esperamos que positivas. De contrário, será esta lepra que assola o continente a dar cabo do chamado “sonho europeu”.   





<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?


Estatísticas (desde 30/11/2005)