22 maio 2015

 

O verdadeiro incentivo


Há dias veio a público que os funcionários da Autoridade Tributária iam receber, a título de prémio, cinco por cento das receitas arrecadadas com a cobrança coerciva efectuada nos processos de execução fiscal instaurados em 2014, no valor total (o prémio, claro) de 57,4 milhões de euros.

À polémica que se seguiu veio o presidente do Sindicato dos Trabalhadores de Impostos (de resto, uma pessoa simpática) defender o bónus com a excelência desse incentivo e a sua comprovada eficiência.

Ora, eu não duvido disso, antes pelo contrário, mas este tipo de incentivos tem muitas vezes o contra de gerar uma eficiência perversa.

Por outro lado, há, digamos, uma vertente filosófica do problema que me põe a pensar. Não há dúvida de que a essência da nossa sociedade é o dinheiro. Ele é a verdadeira divindade que adoramos, o primeiro mandamento a que cegamente e de bom grado obedecemos. É ele que nos faz mover, lutar, fazer das tripas coração. A nossa verdadeira fome é a  fome do dinheiro, o auri sacra famis ( a sagrada fome do ouro).

Romeu, a personagem de Romeu e Julieta, de Shakspeare, pretendendo suicidar-se por amor, vai adquirir um veneno mortal cuja venda poderia acarretar a pena de morte para o boticário, dispondo-se este a correr tal risco a troco de uma grossa maquia. Diz então Romeu ao boticário: “Aqui tendes o vosso ouro! O ouro é para as almas dos homens muito pior veneno e comete mais assassinatos neste execrável mundo do que estas pobres drogas que não tendes licença de vender.”

Pois é! O dinheiro é um fantástico incentivo. E é a perversão por excelência das nossas sociedades. Já não se faz nada por incentivo moral, por desejo de servir os outros, para nos sentirmos bem com nós próprios, por termos cumprido de um modo socialmente útil as nossas funções.

Mas agora reparo que estou a ir longe de mais. Por favor, omitam a leitura deste trecho alienado. Façam de conta que o não escrevi e não me internem compulsivamente.





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