07 janeiro 2014

 

Como era Lourenço Marques

A propósito da morte de Eusébio, lembrei-me da Lourenço Marques dos anos 50, na qual vivi alguns anos. Era uma cidade maravilhosa, para os brancos. Mau de obra barata, obediente, pessoal doméstico com fartura e a baixo preço. No centro viviam os brancos, geralmente em boas moradias, e levando vida desafogada, por vezes faustosa, em qualquer caso muito superior à da "metrópole". Os negros (ou seja, os pretos) viviam nos subúrbios, quase sempre em palhotas e só iam ao centro para trabalhar para os brancos. Podiam viajar nos machimbombos, mas no último banco (cinco lugares, se estivessem preenchidos com parceiros da mesma cor, já não entravam). Obviamente que não entravam nos cafés, nos restaurantes ou nos cinemas dos brancos, a não ser para trabalhar. Um único rapazinho negro frequentava o liceu Salazar naquele tempo. Quando um negro se portava mal (isto é, quando o seu grau de obediência ficava aquém do considerado exigível pelo branco), era ameaçado logo com uma queixa à "Administração", o que punha de imediato o negro a tremer. Com razão, uma passagem por esse serviço era suficientemente convincente para garantir a submissão para o resto da vida... No "mato" (concelho de Magude), onde passei algumas férias, lembro-me do tratamento duro, muitas vezes cruel, dado a todos os trabalhadores. Recordo-me especialmente dos "contratados", que eram homens apanhados nas aldeias e obrigados a trabalhar à força nas explorações agrícolas dos brancos. Particularmente humilhante e cruel era a "justiça" dos administradores coloniais no "mato". Eram de facto os funcionários coloniais (brancos, evidentemente) que administravam a justiça, e faziam-no muitas vezes com requintado sadismo (os castigos corporais eram a regra). De assinalar que a pena de prisão era acompanhada com uma "sova" todos os dias, pois se considerava que, se fosse apenas a privação da liberdade, o condenado a aceitaria de bom grado, comendo e bebendo à custa dos brancos e não fazendo nada... Tudo isto eu vi, claramente visto!





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