20 junho 2012

 

O Manso Leão Europeu

Jean Monnet está certamente desassossegado e incrédulo na sua campa a sentir o desmoronar do edifício europeu. A Europa como um todo está a cair, a ser esventrada pelos seus políticos com a ajuda das hienas que aqui vêm comer os restos mortais dos povos.

Da inexorável senhora Merkel ao seu fiel porta-voz, do insuspeito governo tecnocrata italiano ao impávido governador do BCE, dos defuntos Berlusconi e Sarkozy à onda conservadora greco-ibérica, dos despesistas aos exterminadores de défices; todos jogam avidamente com o que não lhes pertence, seguem enfileirados num conjunto de ideias vagas e injustificadas, distorcem os princípios básicos da formação da União Europeia, transformam batalhas perdidas em guerras ganhas, e não protegem aqueles que os lá colocaram. Conseguiram em dois ou três anos destruir uma obra de 50, conseguiram levar 500 milhões de europeus até um precipício tão fundo, que quem lá cair não morrerá da queda, mas sim de fome, de fúria, e de desespero, antes de se esborrachar lá em baixo. Estão dispostos a sacrificar os seus povos à luz de uma desarticulada teoria económica que dificilmente algum dia constituirá doutrina. É como se, de um momento para o outro, a história de Saramago se tivesse tornado realidade, e todos tivessem ficado cegos. Precisam de uma nova aparição, mas desta feita não a de Nossa Senhora. Talvez do fantasma de Keynes, cuja aparição em Bruxelas, como a da Nossa Senhora em Fátima, pudesse trazer novamente esperança e fé.

A falta de unidade política na Europa atrai os rapinantes abutres e as cobardes hienas, sempre à coca das sobras. É assim que as hienas Moody's, S&P, e Fitch actuam. Pela calada da noite preparam emails, que depois disseminam viricamente pela rede durante o dia, sem nunca se aproximarem demasiado da presa. Apenas uma vez se arriscaram um pouco mais, mas ouve baixas no grupo. O chefe da S&P foi eliminado pelo governo dos EUA após a mordidela na sua estelar nota de crédito AAA.

A Europa é uma presa mais fácil. Os leões são mansos, não retaliam os ataques. Estão dispostos a comer com as hienas do mesmo prato, e até deixar que elas usurpem toda a comida, enquanto os seus filhos são abandonados sem qualquer protecção e compelidos a buscar a fortuna a outras paragens.

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Filipe R. Costa






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