15 outubro 2011

 

De que lado está a violência



Afinal, o Primeiro-Ministro tinha razões para temer uma escalada de violência e fazer ameaças antecipadas e pôr a polícia de sobreaviso. Viu-se agora com a bomba que despoletou sobre os funcionários públicos: para além do corte parcial do subsídio de Natal já este ano, que abrange todos os trabalhadores dependentes, corte total dos subsídios de férias e de Natal nos próximos dois anos para os funcionários públicos que ganhem acima de 1000 € mensais e nos pensionistas que aufiram pensões acima de 1500 € por mês (depois da rectificação feita hoje). Pagamento por metade de horas extraordinárias feitas pelos funcionários públicos. Medidas estas, selectivas, que acrescem às anteriores, com particular incidência nos cortes de vencimentos.
Os funcionários públicos estão, assim, a tornar-se num dos principais bodes expiatórios da crise que foi gerada por outros, que acabam por ser os principais beneficiários das medidas draconianas tomadas contra aqueles.
Claro que também os trabalhadores por conta de outrem, pessoas de parcos rendimentos, pensionistas, beneficiários de prestações sociais têm sido alvo privilegiado das “medidas de austeridade”, quer por serem vítimas de cortes, de supressão ou redução de benefícios, e aumento exponencial do custo de vida por “actualizações” sistemáticas de preços de bens de primeira necessidade e sobrecarga de impostos sobre o consumo, quer por agravamento da legislação laboral – medidas, estas últimas, que também abrangem os funcionários públicos.
Desta vez, porém, os trabalhadores por conta de outrem do sector privado foram contemplados com outra medida específica: o suplemento de meia hora de trabalho por dia completamente “à borla”, para além do célebre e há muito falado (e exigido pela CIP – Confederação da Indústria Portuguesa) “ajustamento” dos feriados.
A estas medidas, lançadas de forma inesperada, lacónica e expedita, um bispo conhecido – D. Januário Torgal Ferreira – chamou de “terroristas” e disse que eram para “esmagar a classe média”. Estava a lembrar-se, sobretudo, das medidas tomadas contra os funcionários públicos, que foram eles os principais visados desta vez. São palavras que queimam a boca, mas ele disse-as, sem papas na língua. Mesmo que descontando algum exagero, é caso para perguntar de que lado é que está a violência e quem tem razões para a temer.





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