10 dezembro 2008

 

As fortunas de certos políticos

Há dias, a propósito de certos acontecimentos recentes, Pacheco Pereira, com o desassombro que o caracteriza, veio dizer que a carreira política não permite, só por si, o enriquecimento de ninguém. E não permite, de facto, se atentarmos nos vencimentos que os políticos auferem. Por conseguinte, o enriquecimento súbito de certos políticos, que não tinham bens de fortuna, há-de provir, seguindo a lógica de Pacheco Pereira, de outras fontes, porventura menos lícitas, sendo um motivo de preocupação especial, como asseverava há dias o bastonário da Ordem dos Advogados, a corrupção nos meios políticos. Isto não significa, porém, que os políticos devam, generalizadamente, ser olhados com suspeição. Há políticos muito sérios e que desempenham os respectivos cargos com dignidade, com probidade e com sacrifício das próprias vidas individuais e das famílias. A corrupção na política existirá tanto como em outros domínios, embora as oportunidades que ela proporciona, enquanto exercício do poder, possibilitem formas de corrupção por vezes muito gravosas e acarretando o descrédito de instituições democráticas fundamentais.
Mesmo que não implicando o exercício corrupto do poder, a política é, muitas vezes, uma forma de aceder a um “status” privilegiado, onde mais do que as remunerações que os políticos auferem, incluindo complementos e compensações que garantem a muitos deles réditos bastante superiores aos que alcançavam nas suas carreiras de origem, se é que chegaram a ter alguma carreira antes de se dedicarem à política, contam sobretudo a notoriedade, a autoridade, o prestígio, os conhecimentos e as ligações que o exercício de cargos políticos proporciona. Muitos deles, se não enriquecem directamente na política, conseguem através dos conhecimentos e ligações a que ela dá ensejo, do prestígio granjeado à custa dos cargos públicos, aceder a lugares de destaque e altamente rendosos fora da política (ou aparentemente fora dela) para os quais saltam na primeira oportunidade, ou depois de terem esgotado o seu prazo de validade política. Ora, é esta forma de encarar a política como trampolim excepcional para certos políticos se guindarem a lugares onde as fortunas lhes vêm parar às mãos como maná a cair dos céus que deixa muita gente perplexa e boquiaberta. É certo que são pessoas talentosas (ninguém lhes deixa de reconhecer o talento), mas mesmo assim o facto causa uma certa fricção no cidadão comum. Talvez resultado da inveja, dirão com toda a justiça alguns dos visados.





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