30 junho 2007

 

A palavra e a coisa

Depois da crónica de ontem do Manuel António Pina no Jornal de Notícias, o léxico português foi enriquecido com mais um termo: “berardização”. Mas “berardização” não é só um termo; é um fenómeno social e político, mental e cultural, que define muito da situação portuguesa em que nos encontramos. Se não, vejam:


Um país “berardizado”
É óbvio que, ao contrário do que tem vindo nos jornais, Berardo não insultou nem humilhou Mega Ferreira. Humilhante para alguém com a estatura intelectual de Mega Ferreira, teria sido ser elogiado por alguém como Berardo. Para comprar arte basta ter dinheiro; não é, como se prova pela figura junta, preciso ter educação ou bom gosto. Parece que Berardo tem dinheiro, e é natural que a facilidade com que “comprou” ao Governo o Centro Cultural de Belém (com a singularíssima particularidade de o Governo ainda lhe pagar para ele comprar) o tenha convencido de que tudo está à venda. E pelo menos muita coisa está, ou o Governo não assistiria de cócoras ao achincalhamento público de um seu delegado (na SIC, Berardo chegou, entre mais mimos “à la Jardim”, a chamar doente mental a Mega Ferreira). O CCB é apenas um episódio da crescente “berardização” do país. E o deslumbramento venerador e obrigado da luzida representação governamental na inauguração do museu apenas outro. O que fez o pé de Berardo escorregar de novo para a chinela foi o facto de a “sua” bandeira não ter sido hasteada ao lado da do CCB. Ainda há-de chegar o tempo em que a bandeira de Berardo terá que ser hasteada ao lado da bandeira nacional ou em vez dela, ou Berardo demite o Governo.
Manuel António Pina





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