25 abril 2007

 

Trinta e três anos depois

Trinta e três anos decorreram sobre o dia 25 de Abril, para mim um dos dias mais belos de toda a minha vida. Ou talvez não exactamente esse, ainda um pouco confuso na expectativa um pouco atónita com que íamos acompanhando o desenrolar dos acontecimentos, no ambiente de um quartel de Mafra que havia perdido o rigor militarista que normalmente enquadrava o quotidiano sinistro da instrução dos cadetes do 2.º ciclo. Talvez não exactamente esse dia, mas mais os dias seguintes, já totalmente dominados por esse espírito de enamoramento de que fala Francesco Alberoni para designar os estados nascentes em que começa uma nova “experiência de libertação, de plenitude de vida, de felicidade”, seja na vivência individual, seja na vivência colectiva de uma comunidade.
Nesses dias, cadetes do 2.º ciclo a prepararmo-nos para sermos exímios atiradores de infantaria na guerra colonial que nos destinavam (eu, o José António Barreiros e o Ferreira de Sousa, que agora também é juiz do STJ, como castigo por sermos “politicamente suspeitos”, depois reconvertidos, por isso mesmo, para a especialidade de licenciados em Direito), nesses dias a seguir ao “25 de Abril”, também quisemos incorporar-nos em várias iniciativas de menor importância face ao êxito da queda da ditadura, e lá andamos de G3 na mão a fazer a guarda a vários pontos estratégicos, nomeadamente o Quartel General.
Trinta e três anos decorridos! Uma soma de anos maior do que a que tínhamos na altura, jovens com muita pouca experiência, mas com a experiência bastante para termos aprendido a execrar para sempre, porque o sofremos na sua brutalidade, embora não com a violência (nem por sombras!) de muitos outros compatriotas, regimes como aquele que a chamada “Revolução dos Cravos” mandou às urtigas. Mandou? Há por aí fantasmas que persistem, como se viu no célebre concurso da TV, vozes que clamam por um novo chefe providencial, depoimentos de muitos desiludidos com promessas que ficaram por cumprir e que não vêem significativas vantagens na democracia, gerações de jovens que não arrostam com a guerra colonial, mas enfrentam o pesadelo do desemprego e para as quais o “25 de Abril” não significa literalmente nada (nem sabem, desgraçadamente, porque não houve para isso a pedagogia necessária, o que ele representou), enfim, uma enorme apatia cívica.





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