04 maio 2006

 

Lamentação reaccionária

Quanto maior a esperança de vida, maior deveria ser o espaço concedido ao ócio (na minha perspectiva, ócio criador). Para quê viver mais tempo, se não for para viver sem submissão ao tempo produtivo do trabalho imposto? Dispor finalmente do nosso tempo de uma forma soberana como tempo de liberdade, de criatividade e de prazer, sendo muito raro que estes coincidam com o trabalho que se é obrigado a executar. Só esse tempo é tempo verdadeiro, porque finalmente nosso. Mas, afinal, dizem-nos que, se há mais esperança de vida, o tempo de trabalho obrigatório tem de aumentar na mesma proporção. Ora bolas! Sempre esta contabilidade impiedosa, comandada pela lógica do que agora, no economicismo imperante, se designa de «custo - benefício»! Este «custo – benefício» vem a traduzir-se em comerem-nos até ao limite o tempo de pujança física e intelectual, para nos deixarem como sobejo o tempo em que já quase não podemos fazer nada de válido em termos de gestão do tempo soberano. Acresce este paradoxo: enquanto a maior duração média de vida não passa de uma esperança (uma expectativa, não sei se legítima), o tributo que se tem de pagar é cobrado com imediata efectividade. É um imposto pela simples esperança de maior vida.





<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?


Estatísticas (desde 30/11/2005)