13 fevereiro 2006

 

Um homem virtuoso

Levanta-se cedo e deita-se muito antes da meia-noite. Sai logo de manhãzinha para o trabalho e (sempre que pode) leva os filhos para o colégio. Chega a casa, depois de um estafante dia de trabalho, entre as 19,30 e as 20 horas e raramente volta a sair. O resto do tempo é para a família, assim como os fins de semana. Não janta, come alguma coisa de duas em duas horas. Senhor de um bom coração, não tem inimigos. É modesto, ponderado, gosta de ouvir os outros e de tratá-los com respeito. Não se mete em política.
E este homem simples é simplesmente o herdeiro do homem mais rico de Portugal. Mas, note-se, tal como ao pai, pouco lhe interessa a riqueza: a sua ambição é criar valor e muito pouco usufruir os frutos da riqueza criada. Ao ponto de, quando vai gozar férias na neve, partilhar a mesma casa com amigos, e este ano vai trocar a Suíça por França por causa do preço. (Para quem quiser saber mais pormenores, veja o Público de 12 passado, pp. 36-37.)
Este homem não é apenas virtuoso, é quase um santo. Por isso é rico. Por isso merece ser rico.
E nós, os pobres, os remediados, os medianamente abastados, que nos levantamos tarde, que quase nunca levamos os filhos à escola (muito menos ao "colégio"), que nos empanturramos ao almoço e ainda queremos jantar, que gostamos de sair à noite e aos fins de semana, que até temos alguns inimigos (certamente por causa do "coração"), que às vezes até nos irritamos com os outros, em especial os familiares, que gostamos de política, como haveríamos de ter direito a férias na neve (aliás perigosas para os plebeus, como sabemos)?! A riqueza é para os virtuosos. A nós, os pecadores, resta-nos a inveja, esse mal nacional diagnosticado por José Gil. Invejamos os ricos, mas não sabemos ser virtuosos como eles, não queremos assumir uma vida de sacrifícios e renúncias como eles levam. Qual a admiração que os deuses (no plural, para não ferir susceptibilidades entre eles) se ponham do lado dos ricos?





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