13 fevereiro 2006

 

Ainda as caricaturas dinamarquesas

Já me pronunciei anteriormente sobre este tema, nos dias 3 e 7 deste mês. Poderei resumir a minha posição assim: a reacção "fundamentalista" dos muçulmanos não é de natureza religiosa ou "civilizacional", mas política; não é dirigida contra a(s) liberdade(s) ou a democracia, mas sim contra o modo como o "Ocidente" tem intervindo no mundo muçulmano e especialmente no mundo árabe (e especialmente na Palestina e ultimamente no Iraque).
Posto isto, considero que é inegável que as caricaturas têm um sentido ofensivo (ao associar a religião muçulmana ao terrorismo), mas que, por outro lado, dada a restrita difusão do jornal onde foram inicialmente publicadas, nunca teriam repercussão significativa se não tivessem recebido o efeito multiplicador provocado pela sua "denúncia" junto dos países muçulmanos. Este é um caso em que é o ofendido que difunde e multiplica a ofensa. Mas também é evidente que o momento político que se vive no Médio Oriente, nomeadamente, não é para gracinhas e qualquer equívoco pode funcionar como rastilho. O mundo árabe, em especial, sente-se profundamente ferido. E acontece que a Dinamarca participa na ocupação do Iraque e que também militares dinamarqueses praticaram "abusos" contra prisioneiros, reconhecidos e punidos recentemente em tribunais dinamarqueses.
Mais duas notas marginais. A primeira para a manifestação de "solidariedade" junto da embaixada dinamarquesa em Lisboa. A Dinamarca é um país estimável a muitos títulos, mas não certamente por ser "mais rico, mais protestante e mais alto" que Portugal!!! (Ou seria uma tentativa de humor? Mas o humor sem piada é lastimável). A segunda é igualmente para lamentar o rudimentar nível de análise a que desceu o filósofo Fernando Gil. Segundo ele, as manifestações contra as caricaturas mostram que o mundo muçulmano entrou "oficialmente" em guerra contra o Ocidente!!! Penso que até Bush já consegue análises mais elaboradas do mundo de hoje...





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